5 feridas emocionais da infância: como curar na vida adulta?
Todos nós temos uma criança interior, aquela que fomos um dia e que ainda está presente, nos trazendo suas experiências, virtudes, talentos e, também, suas dores, traumas e feridas emocionais da infância.
Em algum nível, carregamos as feridas da infância na vida adulta e, se não olharmos para a nossa história a partir de um olhar diferente, podemos permanecer toda a vida sem tratar essas feridas.
Neste artigo, você vai conhecer quais são as 5 feridas da infância que permanecem na vida adulta.
Sou Susy Brito, terapeuta e psicanalista Guia da Alma. Boa leitura!
Índice
O que são feridas da infância?
De acordo com a escritora e filósofa Lise Bourbeau — que já escreveu vários livros na área de Desenvolvimento Pessoal, traduzidos para mais de 20 idiomas —, toda criança nasce alinhada com a alegria de ser ela mesma, primeira fase da vida, para depois conhecer a dor de não poder agir da forma que gostaria, segunda fase, vivendo então um período de revolta, que é a terceira fase. Como solução para essa situação, ela se conforma, e passa a ser o que querem que ela seja, quarta fase.
Nem todos passam por todas as fases, algumas pessoas paralisam na terceira fase e vivem em situação de crise e revolta.
É na quarta fase, quando nos adaptamos ao que é esperado de nós, que criamos nossas máscaras de proteção, a fim de evitar viver o sofrimento que experimentamos na ocasião da segunda fase. Cada máscara corresponde às feridas emocionais da infância vividas pelo ser humano.
Seguem, em ordem cronológica ao seu surgimento, as 5 feridas:
- Rejeição;
- Abandono;
- Humilhação;
- Traição;
- Injustiça.
Quando somos feridos?
As feridas da infância nascem na segunda fase da vida, ou seja, quando a criança percebe que não pode ser ela mesma.
No momento em que a criança experimenta o trauma que gera a ferida, ela já inicia o processo de criar uma forma de se proteger da dor que está sentindo.
A experiência de dor costuma ser resultado de alguma interação com os responsáveis da criança.
Ressalto aqui a importância de um olhar sem julgamentos, pois muitas vezes o adulto age da melhor forma possível, dando o que tem e o que aprendeu ser o melhor.
Os traumas de infância e suas consequências
Os traumas podem ser muito sutis. Muitas vezes, não lembraremos do momento exato em que vivenciamos a situação que gerou determinada ferida e sua máscara.
Porém, ao identificar certo padrão de comportamento, sentimento ou sensação, fica evidente que houve uma experiência de dor atrelada, mesmo que tenha acontecido enquanto éramos muito bebês.
Todos vivemos traumas, faz parte do processo de maturação de cada um. Há traumas que são leves e outros muito mais pesados e difíceis de serem elaborados.
Se a criança está em casa super animada esperando o papai chegar do trabalho para lhe mostrar o lindo desenho que fez para ele, mas naquele dia ele chegou muito nervoso, devido a algo que o aconteceu e não olhou para o seu desenho ou demonstrou não ter interesse nele, isso é um trauma para a criança.
Se o bebê está com fome, mas sua mãe não pode alimentar na hora porque está tomando banho ou passando mal, ou seja, não está disponível de imediato, isso é um trauma para o bebê.
Se a criança assiste ou ouve uma discussão leve entre os pais, mesmo que ela não entenda o que está acontecendo, isso é um trauma para a criança.
Entenda que em nenhum destes exemplos estamos falando de maus tratos, abuso, violência ou falta de amor, são situações que acontecem ao longo da infância, mas que mesmo sendo comuns, geram dor, causam feridas e desenvolvem máscaras.
Conheça as máscaras desenvolvidas de acordo com cada ferida:
Ferida | Máscara |
Rejeição | Escapista |
Abandono | Dependente |
Humilhação | Masoquista |
Traição | Controlador |
Injustiça | Rígido |
Nos tópicos a seguir, você conhecerá mais das feridas emocionais da infância e suas máscaras.
Se reconhece em alguma dessas feridas?
5 tipos de feridas da infância que podem persistir na vida adulta
Entenda melhor como as feridas emocionais da infância podem afetar a saúde mental na vida adulta.
Feridas emocionais da infância: abandono
Abandonar é deixar, largar, não se ocupar.
Quem abandona costuma dizer: não posso mais, quem rejeita diz: não quero mais.
Compreender qual das duas feridas está experimentando tem mais relação com a dor vivida do que a situação em si.
É importante estar atento à sua reação e à pessoa a quem se relaciona o problema: se for do mesmo sexo, a ferida ativada é a da rejeição, se for do sexo oposto, a ferida é do abandono.
Uma criança pode experimentar o sentimento de abandono quando:
- A mãe passa a se ocupar de um novo bebê;
- Pais que não têm muito tempo de ficar com a criança, estão sempre precisando sair;
- Se precisar ficar internada em um hospital sem a presença constante dos pais;
- Quando os pais a deixam com alguém nas férias;
- Mãe sempre doente ou pai sempre ocupado e ausente.
Esta ferida é vivida com o genitor do sexo oposto ao da criança.
É muito comum que a pessoa sofra de abandono e rejeição ao mesmo tempo, sentindo-se rejeitada por um genitor e abandonada por outro.
Quem sofre de abandono não se sente alimentado afetivamente, sendo que a carência de alimento físico pode despertar essa ferida que costuma se manifestar antes dos 2 anos de idade.
Sua emoção mais intensa é a tristeza, pois a sente profundamente, sem compreender muito bem de onde vem. Quando maior esta ferida, maior é o sentimento de desamparo e falta.
Seu maior medo é a solidão. A máscara do abandonado é a dependência.
O dependente costuma se tornar vítima, ou seja, uma pessoa que tem um olhar mais fixo para a dificuldade, julgando nunca ter o suficiente e que sempre precisa do outro.
“Quando faz alguma coisa para o outro, é na expectativa de um retorno de afeição.
Quando recebe a afeição almejada, compartilhando uma atividade agradável com outra pessoa, ele deseja que aquilo dure.
E o fim de um prazer é vivido como um abandono.”
Quanto maior e mais profunda for esta ferida, maior será o grau de autoabandono e abandono a outras pessoas, situações e projetos.
Feridas emocionais da infância: rejeição
De acordo com o dicionário, rejeitar é:
- Repelir;
- Afastar;
- Recusar;
- Pôr de lado, largar;
- Não acolher;
- Não assimilar;
- Excluir.
Esta é a primeira a se manifestar.
A rejeição é uma ferida muito profunda, pois a pessoa se sente rejeitada em seu ser, em seu direito de existir, de estar aqui.
Pode se iniciar antes mesmo do nascimento e se relaciona ao genitor do mesmo sexo ao da criança.
A pessoa com a ferida da rejeição desenvolve uma personalidade escapista, esta é sua máscara, pois sua primeira reação é fugir, interpretando que ninguém gosta dela.
A criança que vive a rejeição costuma passar a maior parte do tempo em seu mundo imaginário, sendo considerada, muitas vezes, bem-comportada e sossegada, não faz barulho e quase não cria problemas ou dá trabalho.
O adulto que carrega esta ferida, costuma se sentir excluído, como se nunca fizesse parte dos grupos, se julga sem valor e busca ser perfeito para se sentir valorizado aos olhos dos outros.
A vergonha é uma emoção comum ao escapista.
Seu maior medo é entrar em pânico e se sentir impotente.
“O escapista costuma ter poucos amigos na escola e, mais tarde, no trabalho.
É considerado um solitário que precisa ser deixado em paz.
Quanto mais se isola, mais invisível parece tornar-se.
Entra num círculo vicioso: quando se sente rejeitado, veste a máscara do escapista para não sofrer, então torna-se tão apagado que os outros não o enxergam mais.
Vê-se cada vez mais sozinho e acha aceitável sentir-se rejeitado.”
Lise Bourbeau
Feridas emocionais da infância: humilhação
Humilhar, rebaixar moralmente, passar vexame, afrontar.
Inicia-se entre 1 e 3 anos de idade, na fase do desenvolvimento das funções do corpo físico, quando a criança aprende a se alimentar sozinha, usar o banheiro, falar, escutar e compreender o que ouve etc.
A ferida da alma da humilhação acontece quando a criança sente que um dos responsáveis tem vergonha dela, seja porque está suja ou porque não se comportou bem, não é bonita, não sabe se vestir direito, ou seja, aquilo que leva a criança a se sentir envergonhada em termos físicos.
Situações de crítica, desaprovação, comparação e exposição negativa, principalmente quando ocorre em público, contribuem para o aumento dessa ferida que detona a autoestima e gera uma personalidade dependente ou codependente.
É uma ferida que pode ser vivida em diversos domínios, de acordo com o que lhe aconteceu na fase de 1 a 3 anos de idade.
Por acreditar que não tem liberdade de se movimentar e agir como deseja no nível físico, sente-se rebaixada e muito controlada pelos seus cuidadores.
A sexualidade costuma contribuir para esta ferida quando o adulto responsável reage de forma muito negativa a uma situação em que a criança esteja explorando seu corpo.
Esta ferida pode se originar tanto com a mãe como com o pai. Sendo mais ligada à mãe no que se refere ao asseio e a sexualidade e ao pai em relação ao aprendizado, da fala e da audição.
Muitas vezes, a pessoa compensa essa ferida no fazer e ter coisas. Lembrando que compensar não é curar e sim uma forma de lidar com a ferida.
O ideal é que se busque cada vez mais consciência para que se possa ir, dia a dia, caminhando no processo de autoconhecimento e cura.
É importante esclarecer a diferença entre vergonha e culpa.
A culpa é o que sentimos quando percebemos ou julgamos que fizemos algo errado. Pode ser desconfortável e pesada, mas nos orienta a uma ação de reparação, como pedir desculpas e mudar nossa atitude.
Na vergonha, sentimos que somos falhos e indignos de amor e amparo, é um sentir bastante doloroso e se alimenta do medo de ser isolado, excluído ou ridicularizado.
Podemos sentir a culpa e não ter vergonha, mas não temos vergonha sem sentir a culpa.
Esta ferida gera a máscara do masoquismo, aquele que sente prazer no sofrimento. Em geral, de forma inconsciente, a pessoa busca dor e humilhação, se machucando e se castigando antes que outro o faça.
O masoquista costuma se colocar ou se perceber vivendo situações em que deve cuidar de alguém, esquecendo cada vez mais de si mesmo.
Carrega pesos que não são seus, peso este que pode se apresentar como forma de gordura corporal.
Ele ajuda acreditando que isso não lhe trará vergonha, como uma forma de garantir que está fazendo algo que gere orgulho de si mesmo. Porém, grande parte das vezes, não tem o reconhecimento por parte do outro e se sente humilhado quando percebe que estão se aproveitando dele.
O masoquista costuma se sentir culpado pelo estado emocional do outro, buscando o que fez de errado ou deixou de fazer para a outra pessoa. Se foca tanto no outro que vai perdendo o contato com as suas próprias necessidades emocionais básicas e desejos.
Ao se mostrar sempre útil, tenta esconder sua ferida e alimenta a ilusão de que não sofre de humilhação.
O maior medo do masoquista é a liberdade.
Normalmente, faz escolhas onde ao se libertar em um aspecto, se aprisiona em outro. Ele tem muito medo de suas escolhas e costuma se punir para penalizar o outro.
“Se você se reconhece na ferida da humilhação, lembre-se de que precisa trabalhar mais no nível da alma, libertando-se do sentimento de humilhação.
É importante saber que sua mãe e/ou seu pai também vivem a ferida da humilhação.
Ao sentir compaixão por eles, será mais fácil senti-la por você mesmo.
Lembre-se de que a principal causa de uma ferida é a incapacidade de perdoar o que infligimos a nós mesmos ou aos outros.”
Lise Bourbeau
Faz sentido pra você?
Feridas emocionais da infância: traição
Segundo o dicionário, trair é ser infiel ou abandonar de forma traiçoeira. O termo mais importante associado é o seu oposto, a fidelidade. Sentimos que podemos confiar em uma pessoa fiel.
A ferida da traição nos leva à emoção do medo de confiar.
É uma ferida que se inicia entre os 2 e 4 anos de idade, quando há o desenvolvimento da energia sexual.
Essa ferida acontece a partir do genitor do sexo oposto, quando há alguma atitude inesperada por parte deste.
Nem sempre a traição é feita diretamente à criança, mas isso não diminui o sentimento de se sentir traído.
As traições diretas acontecem quando há promessas não cumpridas, mentiras, segredos da criança revelados a outros. Porém, a criança pode se sentir traída quando há traição ou separação dos pais.
“A criança sente-se traída pelo genitor do sexo oposto sempre que este não cumpre uma promessa ou trai sua confiança.
Ela vivencia essa traição principalmente em sua conexão amorosa ou sexual.
Por exemplo, uma menina experimenta a traição sempre que percebe que seu pai se sente traído pela sua mãe. É como se ele a estivesse trocando.
Um sentimento de traição pode ser igualmente experimentado quando a menina é ignorada pelo pai depois da chegada de um bebê menino.”
Lise Bourbeau
A ferida da traição gera raiva, sentimento de não ser bom o suficiente e não ser merecedor, construindo uma personalidade controladora e insegura.
Esta ferida gera a máscara do controlador. Ele age no controle para garantir que seus compromissos serão respeitados e, também, para ser fiel e responsável e se assegurar que as pessoas irão cumprir seus compromissos.
Costumam ser muito exigentes consigo mesmas, sempre querendo mostrar do que são capazes. Têm um ponto de vista de que um ato de covardia é uma traição. Apresentam dificuldade de aceitar a fraqueza dos outros.
O controlador deve trabalhar a tolerância e a paciência, principalmente quando a experiência vivida o está impedindo de fazer as coisas como gostaria ou como espera que sejam.
Ele tenta prever o futuro, a fim de se resguardar de uma possível traição, sendo comum que o controlador experimente bastante ansiedade.
Seus maiores medos são: o compromisso, a separação e a renegação.
Seu medo de compromisso resulta do medo de faltar com o compromisso. Por considerar que descumprir o prometido é uma traição, se julga obrigado a manter a palavra e, ao assumir vários compromissos, se sente amarado. Para evitar correr o risco de faltar com sua palavra, prefere não se comprometer.
O controlador tem dificuldade de aceitar a separação, se for proposta por ele é devido ao medo de trair e ser acusado de traidor, se vier do outro, ele se sentirá traído. O medo de se comprometer também está relacionado ao medo de se separar.
Para o controlador, ser renegado é ser traído.
Na maior parte dos controladores, a ferida do abandono se desenvolve antes da ferida da traição. A pessoa pode sofrer de abandono sem sofrer de traição, mas quando tem a ferida da traição, tem também a o abandono.
“O controlador deve trabalhar a paciência e a tolerância, sobretudo quando uma situação o impede de fazer as coisas à sua maneira e segundo suas expectativas.
O controlador é levado a futurizar, isto é, a tentar prever o futuro. Sua mente é muito ativa.
Quanto mais intensa a ferida, mais ele quer ter o controle de tudo para evitar ser vítima de traição.
Os principais inconvenientes dessa atitude são o desejo de que tudo aconteça como ele previu e a criação de um monte de expectativas com relação ao futuro.
Essa atitude o impede de viver bem o aqui e agora. Em geral, ele fica mais ansioso por verificar se tudo se dará como ele previu do que por desfrutar do momento presente.”
Lise Bourbeau
Feridas emocionais da infância: injustiça
Injustiça é a ação contrária à justiça, que se define como a apreciação, o reconhecimento e o respeito dos direitos e do mérito de cada um.
Quem sofre de injustiça não se sente valorizada, respeitada ou recebedora do que merece. Receber mais do que acredita merecer também pode gerar o sentimento de injustiça.
É uma ferida que se inicia entre os 4 e 6 anos, no período de desenvolvimento da nossa individualidade, quando nos tornamos conscientes de que somos um ser humano, um indivíduo autônomo e singular.
Essa ferida acontece quando a criança sente que o genitor do sexo oposto não fez algo que deveria fazer. Ela sente que é injusto não conseguir integrar a sua individualidade e sofre com o autoritarismo, críticas frequentes severidade, conformismo e intolerância.
Existem muitas formas da criança experimentar a injustiça. Pode acontecer em um ambiente onde há muito autoritarismo e exigências, cobrando-se da criança aquilo que ela não tem condições de dar. Pode acontecer na maneira como os pais lidam com o relacionamento da criança e seus irmãos ou com outras crianças.
Esta ferida gera a máscara da rigidez.
A dor da injustiça gera sentimento de impotência e inutilidade, o adulto tende a se tornar rígido e muito exigente em relação a si mesmo e aos outros, podendo ser perfeccionista e estagnando por não sentir que é bom o suficiente.
Isola-se por acreditar que nada o afeta, mas isso é uma ilusão que alimenta, pois costuma ser muito sensível, mas não reconhece ou não demonstra essa sensibilidade. Se importa muito com a opinião dos outros e não acessa o seu prazer.
Desde jovem, o rígido começa a acreditar que as pessoas o apreciam pelo que ele faz muito mais do que pelo que ele é.
Diante desta crença limitante, ele busca ser rápido e eficiente, se afastando dos problemas.
É bastante otimista, podendo se enganar dizendo a si mesmo que não tem problema. Costuma fazer tudo o que pode sozinho e somente pede ajuda quando está no limite.
Nas experiências de decepção ou imprevisto, ele simula indiferença, dizendo para si que está tudo bem e que não há um problema.
O rígido está sempre em busca da justiça, assim, procura garantir que é digno do que recebe. Se recebe menos, se sente injustiçado, se recebe mais, não se sente digno e pode dar um jeito de perder tudo.
Ele tende a se controlar demais e tem dificuldade de relaxar, pois acredita que precisa estar sempre fazendo algo. Isso espelha nas pessoas ao seu redor que costumam também cobrar mais dele, sendo o reflexo de sua autoexigência.
A pessoa pode viver uma experiência que tenha a ver com uma situação, mas sentir a partir da ferida mais vulnerável. Um exemplo é quando o masoquista vive uma situação de rejeição, mas se sente mais humilhado do que rejeitado.
“Os temores que impedem o rígido de se comunicar com clareza são: medo de se enganar, de não ser claro, de ser criticado, de ter escolhido a hora errada, de falar demais, de se exaltar ou perder o controle, de desagradar, de parecer muito exigente, de despertar ciúme ou inveja, de ser considerado um aproveitador.
Se você se reconhece nesses medos, provavelmente não está sendo você mesmo e tem a ferida da injustiça.”
Lise Bourbeau
Buscamos mudar e melhorar alguns comportamentos, sem manter um olhar atento à sua causa e, por isso, acabamos por nos frustrar.
Ao conhecer as máscaras que cada ferida gera, se torna mais claro perceber e reconhecer a origem de determinados padrões e, ao trabalhar na cura das feridas emocionais da infância, a mudança no comportamento acontece de forma natural e leve.
Como curar feridas da infância?
Se identificou com alguma ferida? Calma, é possível resgatar, acolher e curar a criança interior.
O primeiro passo no processo de cura de uma ferida é o reconhecimento da mesma e sua aceitação, sem resignar-se a ela. Olhar e observar sem julgamento é o que te levará ao autoconhecimento.
Amar suas feridas e máscaras é mais um importante passo, pois é a partir delas que você se tornará mais consciente dos aspectos de sua personalidade que você tem se recusado a perceber.
Se você criou máscaras para sobreviver, está tudo bem, foi o melhor que soube fazer no momento em que viveu as experiências que te trouxeram dor. Foi um ato de amor para consigo mesmo.
Agora, você pode olhar para cada estratégia que criou, consciente ou inconscientemente, e perguntar:
- Isso ainda está me ajudando?
- Tenho conseguido uma vida mais leve e prazerosa desta forma?
- Isso ainda é útil?
- Isso está me ajudando a crescer e evoluir?
Assim, poderá escolher novas formas de lidar com antigas feridas.
Compaixão, tolerância, paciência e perdão são essenciais neste processo.
Olhar, reconhecer, acolher e amar a sua criança interior ferida te levará a uma nova forma de perceber e viver suas experiências.
As feridas foram criadas na infância. Ainda que muitas se desenvolvam mais tarde, a semente está nos primeiros anos de vida. Dedique-se à sua criança até que ela se sinta realmente segura, amparada, abençoada e amada por você.
Vamos trabalhar juntas a sua criança interior?
“Passamos por quatro etapas quando criamos uma ferida.
Na primeira, ainda somos nós mesmos.
Na segunda, sofremos ao descobrir que não podemos ser nós mesmos, pois isso não interessa aos adultos à nossa volta.
Na terceira etapa, reagimos à dor vivida. É nesse momento que a criança começa a ter crises e a resistir aos pais.
Na última etapa, a da resignação, decidimos adotar uma máscara para tentar não decepcionar os outros e, sobretudo, não reviver o sofrimento decorrente de não termos sido aceitos quando éramos nós mesmos.
A cura será realizada quando você conseguir inverter essas quatro etapas, retornando à primeira, quando ainda é você mesmo.”
Lise Bourbeau
Lembre-se: você não é suas feridas ou máscaras, você é essa que percebe tudo isso e pode fazer escolhas diferentes que contribuam cada vez mais para uma experiência de vida plena e feliz.
Para cada ferida e máscara, há também uma força relacionada.
Na máscara do escapista, ferida da rejeição, há um ser humano muito capaz, resistente, habilidoso, criativo, eficiente, que aprecia e sabe viver na solitude.
Na máscara do dependente, ferida do abando, há alguém que sabe o que quer, perseverante, determinado, divertido, sociável e capaz de contribuir com os outros.
Na máscara do masoquista, ferida da humilhação, há uma pessoa audaciosa, aventureira, talentosa, que conhece suas próprias necessidades e é sensível as dos outros, conciliadora, generosa, altruísta, organizada e sabe desfrutar da vida e do amor.
Na máscara do controlador, ferida da traição, há aquele que possui qualidades de líder, com grande facilidade de falar em público, de valorizar os outros, administrar várias coisas ao mesmo tempo, tomar decisões de forma eficiente, capaz de confiar na vida e em sua força interior.
Na máscara do rígido, ferida da injustiça, há um indivíduo criativo, cheio de energia, organizado, preciso, detalhista, assertivo, sensível, entusiasta, vivo e dinâmico.
Estas forças são trunfos que podem contribuir para o seu desenvolvimento, te ajudando a se libertar das máscaras e se tornar cada vez mais quem você é.
Amar a si mesma é se permitir ser quem você realmente é.
Este artigo foi escrito com base no livro de Lise Bourbeau, As Cinco Feridas Emocionais.
Há outras teorias sobre as feridas da infância. Além das que foram tratadas neste artigo, mais duas feridas:
- Violência intrafamiliar;
- Medo do desconhecido.
Violência Intrafamiliar refere-se a castigos e atos de repressão associados ao intuito de disciplinar. Muitas vezes brigas, insultos e ataques de raiva fogem do controle e desestabilizam a criança, mesmo se ela não for o alvo da violência.
A pessoa cresce em um ambiente abusivo e este se torna sua referência, podendo ser um modelo repetido em seus relacionamento na vida adulta.
Medo do desconhecido está relacionado ao processo natural de enfrentamento dos medos infantis quando não são tratados com a atenção e delicadeza necessárias.
A falta de empatia dos responsáveis e adultos próximos pode gerar uma fragilidade emocional na criança e afetar o desenvolvimento de sua autoconfiança.
Dedique parte da sua vida para cuidar de você mesma!