Como acolher e cuidar da Criança Interior Ferida?
A nossa criança interior ainda vive em nós. A nossa versão criança está em algum lugar dentro da adulta que hoje quase não tem mais tempo para nada.
É bem importante que a gente olhe para ela, acolha, dê voz e cuidado.
Ao validarmos os sentimentos da nossa criança, podemos então iniciar um processo de ressignificação dos acontecimentos vividos.
Neste artigo trago a importância desse movimento, seus benefícios e a oportunidade de realizar esse acolhimento. Boa leitura!
Índice
O que é Criança Interior?
Você se lembra da sua infância? Lembra dos momentos felizes, não tão felizes, lembra das brincadeiras, dos amigos?
Hoje, já adulta, você se lembra de como foi esse período da sua vida ou não consegue se lembrar de muita coisa?
Todas nós já fomos crianças um dia, isso é fato! E é fato também que, apesar de crescermos, aquela criança que fomos, ainda vive dentro de nós. Tudo aquilo que experimentamos na nossa infância, de bom e não tão bom, fica registrado em nosso inconsciente.
Nossa criança interior guarda as memórias vividas nessa fase. Você se lembrando ou não, estão lá, dentro de você!
Quando somos crianças, absorvemos as experiências, as palavras, os momentos. Cada coisa é assimilada e arquivada dentro de nós.
Nosso cérebro, ainda em desenvolvimento (é sabido que nosso cérebro só se desenvolve por completo por volta dos 22/23 anos de idade), interpreta cada acontecimento com a atual perspectiva e maturidade: de uma criança, recém-chegada ao mundo, que precisa ser guiada, amada, acolhida e orientada.
Nem sempre fomos guiadas, amadas, acolhidas e orientadas, mas o ponto aqui não é culpar ninguém, nem nossos pais, cuidadores, nem a nós mesmas.
O ponto aqui é, como adultas, aprender ferramentas para acolher nossa criança interior! Dar a ela colo, voz e amor, além de nos auto responsabilizar pela nossa vida e caminho.
A criança interior e os traumas de infância
Trauma é uma marca em nossas vidas que rouba a nossa energia vital e impede que consigamos viver plenamente.
Essa marca acontece quando a carga emocional do que acabou de ser vivenciado é superior à nossa capacidade de assimilar e suportar. Desta forma gera-se um trauma emocional.
As crianças são seres inocentes, puros e sem maldade que chegam ao mundo sem saber o que as espera. São cheias de sabedoria e espontaneidade. Por isso, absorvem tudo aquilo que ouvem, presenciam e vivem.
Na infância, ainda não aprendemos a distinguir o bom do mau e arquivamos na memória tudo aquilo que nos acontece, sem filtro algum.
Tudo o que é armazenado na infância traz uma consequência para a vida adulta. Tudo aquilo que aprendemos e vivenciamos quando crianças traz reflexos, moldando nossos comportamentos.
Olhar para tudo o que foi vivido e entender as raízes dos comportamentos é essencial para o processo de autoconhecimento.
Quais as consequências da Criança Interior Ferida no adulto?
Trazemos alguns traumas da nossa criança para a vida adulta. Se não forem olhados e curados, esses traumas tomam as rédeas de nossas vidas, determinando nossos comportamentos, relacionamentos e futuro.
Você tem dificuldades para dormir hoje em dia?
Claro que o estresse diário, as inúmeras tarefas e a vida na cidade grande impactam diretamente o nosso sono. Mas muitas vezes a insônia pode ter raiz em algo vivenciado na infância, como, por exemplo, não ter recebido acolhimento quando era um bebê.
Talvez você tenha chorado por muito tempo no berço, repetidas vezes e demorado a receber o que precisava para atender a sua necessidade do momento (fome, frio, aconchego, trocar a fralda etc).
Sente insegurança para expressar suas ideias ou falar em público?
Talvez, na sua infância, você pode não ter sido ouvida ou não teve os seus sentimentos devidamente validados, foi repreendida e reprimida por ter muita energia, por sua criatividade, por correr demais, falar demais, brincar demais…
Experiências relacionadas à vergonha, quando vivenciadas na infância, também trazem registros traumáticos.
Caso você tenha vivenciado algo que te envergonhou muito, que te fez se sentir inferior, isso traz reflexos na vida adulta como alguém que não se valoriza. Que se diminui para pertencer em lugares desconfortáveis na busca de acolhimento, podendo desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e estresse.
Cicatrizes e feridas profundas te impedem de dar passos para fora da sua zona de conforto. Por já ter sofrido demais, só a ideia de fazer um movimento novo já causa ansiedade.
Por isso, você se conforma com o que tem, com “migalhas” que não trazem a perspectiva de um futuro melhor, desde que você esteja confortável e segura (mesmo que, muitas vezes, essas sensações sejam apenas ilusão).
Novamente, eu repito: o ponto não é culpar ninguém. É preciso olhar para o que aconteceu e nos colocar como adultas em nossas vidas, tendo autorresponsabilidade pelas nossas escolhas atuais.
Como encontrar a sua Criança Interior?
Trago aqui uma meditação que te guiará para um encontro com a sua criança interior.
Mas desde já, você pode começar com um exercício chamado Vinte Conectadas.
Este exercício é uma técnica que vai acalmar a sua mente racional, seu corpo e seus pensamentos, facilitando a entrega para a meditação:
- Respire pelo nariz 5 vezes seguidas, inspirando e expirando sem pausas, onde as respirações são conectadas umas às outras.
- Inspire pelo nariz, expire pelo nariz. Inspire pelo nariz, expire pelo nariz. Inspire pelo nariz, expire pelo nariz. Inspire pelo nariz, expire pelo nariz.
- Na quinta respiração, inspire profundamente pelo nariz, se possível enchendo bem os seus pulmões e os esvazie completamente, expirando pelo nariz, se possível. Repita este ciclo 4 vezes e somarão 20 respirações.
Você agora estará mais relaxada e aberta para ouvir minha meditação guiada e encontrar a sua criança interior.
Aqui, no final do artigo, você também irá encontrar mais dicas de como acolher sua criança interior. Depois da meditação, siga na leitura!
Meditação Guiada: Encontro com a Criança Interior Ferida
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Como acolher e cuidar da criança interior?
Trago aqui algumas outras formas de você se conectar com sua criança interior. A primeira delas é:
1. Retomar hobbies da infância
O que você gostava de fazer na sua infância? Pintar? Desenhar? Correr? Dançar?
Tente se lembrar e insira alguma destas coisas no seu dia a dia!
Nossa vida se tornou automática demais, sem momentos de relaxamento, sem pausas e isso nos engessa, nos rouba o brilho natural. Durante o seu dia, faça ao menos uma coisa do que gostava muito quando era criança.
Se permita fazer pausas, mesmo por poucos minutos, para estar com você mesma fazendo algo prazeroso, que alimenta e completa a sua criança interior.
2. Escrita terapêutica
Outra forma de acolher a sua criança é através da escrita. Escrevendo seus sentimentos você dá voz a ela. Antes de começar, faça o exercício das Vinte Conectadas para relaxar a mente racional e poder escrever livremente, sem julgamentos.
Se conecte com sua criança interior e perceba qual sentimento surge. Se pergunte de onde vem este sentimento, qual parte do seu corpo sente o que está sentindo com mais força?
Qual foi a primeira vez que se sentiu assim? Volte para esse momento, escreva o que vier, sem preocupações com julgamentos ou se a letra está legível. A ideia aqui é dar vazão ao que está dentro de você.
Quando sentir que já escreveu o suficiente, pare, respire profundamente e se possível leia o que foi escrito.
Neste momento você enquanto adulta acolhe a sua criança, valida os seus sentimentos, a escuta, dá suporte e amor a ela.
3. Auto-observação
Quando sentir que foi invadida por alguma emoção “do nada” no meio do seu dia, que te tirou do seu centro, uma dica que eu dou é se auto observar. Meditações para a criança interior sempre são bem vindas.
Vamos supor que você está vivendo sua rotina e algo corriqueiro acontece te deixando triste, com raiva ou nervosa. Quando isto acontecer pare, respire e antes de agir (gritando, brigando, xingando, chorando) se observe.
Faça algumas respirações diafragmáticas – inspire pelo nariz enchendo sua barriga lentamente e ao expirar vá encolhendo a sua barriga devagar, como se estivesse enchendo e esvaziando uma bexiga.
“Respirar com a barriga” permite que mais ar chegue aos pulmões, mais oxigênio chegue ao sangue e ao organismo como um todo, regulando os batimentos cardíacos, levando oxigênio ao cérebro, trazendo mais clareza e tranquilidade ao momento presente.
Perceba de onde vem essa emoção, o que estava acontecendo no momento que despertou esse sentimento em você e tente se lembrar qual foi a primeira vez que se sentiu dessa maneira. Enquanto faz essa reflexão, continue fazendo as respirações diafragmáticas.
Pode ser que você note que essa emoção, esse sentimento, tem raiz na sua infância… Que quem sentiu isso foi sua criança interior e com esse exercício de respiração e auto-observação, você envia um recado a ela e ao seu corpo físico de que está tudo bem, que você está segura agora, que não precisa ter medo.
Como curar as feridas emocionais da infância?
As feridas emocionais começam a ser curadas quando paramos de negá-las, de sufocá-las, de fingir que elas nunca existiram.
Reconhecer o que nos aconteceu e olhar de frente para as nossas feridas e cicatrizes é o primeiro passo para o início do processo de ressignificação.
Entenda que isso não significa que você vai esquecer o que te aconteceu, mas que você vai aprender maneiras de lidar com isso e não deixar mais que as suas feridas, traumas e sombras guiem a sua vida.
Um processo terapêutico de autoconhecimento te ajuda nesse caminho, auxiliando na validação dos seus sentimentos.
E também para entrar em contato com o seu centro, para que você possa se organizar emocionalmente, dar voz àquilo que está no inconsciente, além de trazer clareza, lucidez e amor próprio para enfrentar a vida com mais consciência.
Sentiu que quer iniciar esse processo? Sentiu que quer fazer diferente e embarcar na jornada de autoconhecimento?
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