Consequências da alienação parental: o que é e como lidar?
Queremos conversar hoje sobre um tema de grande importância para os filhos de casais separados: as consequências da alienação parental e a separação/ rompimento do contato, da ligação e da convivência da criança ou jovem com um de seus pais.
Uma pesquisa intitulada Proteção da Criança na Dissolução da Sociedade Conjugal, que integra o Diagnóstico Nacional da Primeira Infância – produzida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em abril de 2022, relata que as crianças devem ser protegidas diante de separações litigiosas por conta das consequências da alienação parental.
E segundo a pesquisa mais recente realizada pelo IBGE, cerca de 80% dos filhos de pais separados sofrem chantagens emocionais de um deles e, essa prática devastadora, causa danos e consequências que acompanham essas crianças e esses jovens até a vida adulta.
Neste artigo, convido você a saber mais sobre esse assunto de grande importância para a saúde mental de crianças e jovens que são as maiores vítimas dessa situação.
Índice
O que é alienação parental? Significado!
A alienação parental é um fenômeno delicado e prejudicial que ocorre quando um dos pais, após uma separação conflituosa, manipula emocionalmente seus filhos, tentando afastá-los do outro genitor.
Isso pode envolver difamação, desqualificação e criação de uma imagem negativa do pai ou mãe ausente na mente das crianças.
O objetivo muitas vezes é minar o relacionamento saudável entre a criança e o pai ou mãe alienado, causando-lhes confusão e angústia.
A alienação parental não apenas prejudica as relações familiares, mas também o bem-estar emocional das crianças, criando ciclos de conflito e ressentimento que podem perdurar por gerações.
Portanto, é essencial reconhecer e combater esse problema, priorizando o melhor interesse das crianças e promovendo a convivência saudável com ambos os pais.
Tipos e exemplos de alienação parental
A alienação parental pode se manifestar de diversas formas, cada uma delas tendo um impacto prejudicial nas relações familiares.
Aqui estão alguns tipos com exemplos:
- Difamação do genitor alienado: isso ocorre quando um dos pais fala mal do outro, fazendo com que a criança desenvolva uma imagem negativa. Por exemplo, um pai pode dizer ao filho que a mãe não o ama mais e que ela é a responsável pela separação e vice-versa, a mãe também pode dizer ao filho que seu pai nunca mais quis saber dele, causando um mal estar no relacionamento. Outras pessoas da família como avós, tios, parentes próximos podem contribuir nessa difamação;
- Restrição de contato: o genitor alienador pode dificultar o acesso do pai ou mãe alienado à criança. Isso pode incluir atrasar visitas programadas, criar obstáculos logísticos ou alegar preocupações não fundamentadas sobre a segurança da criança. E nos casos mais graves, até, um dos genitores pode usar de restrições mais drásticas, usando do assédio moral em relação ao próprio filho, que, no intuito de obedecer ou agradar, acata a restrição;
- Conversões de lealdade: o genitor alienador pode manipular a criança para que ela sinta que precisa escolher um lado, forçando-a a ficar contra um dos pais. Por exemplo, dizer à criança que ela só pode amar um dos pais;
- Bloqueio de comunicação: o genitor alienador pode interferir na comunicação entre a criança e o pai ou mãe alienado, como interceptar mensagens ou evitar que a criança atenda chamadas;
- Falsa acusação de abuso: o genitor alienador pode fazer acusações falsas de abuso físico, emocional ou sexual contra o pai ou mãe alienado, criando um clima de medo e desconfiança;
- Minimização da importância do genitor alienado: o genitor alienador pode minimizar a importância do pai ou mãe alienado na vida da criança, como ignorar suas realizações ou não mencionar suas contribuições para o bem-estar da família;
- Introdução de terceiros: o genitor alienador pode tentar substituir o pai ou mãe alienado por um novo parceiro, forçando a criança a aceitar essa pessoa como uma figura parental primária.
É importante lembrar que a alienação parental prejudica não apenas o genitor alienado, mas principalmente o bem-estar emocional e psicológico da criança.
É fundamental identificar e abordar prontamente esses comportamentos para proteger os interesses da criança e manter relacionamentos saudáveis e significativos com ambos os pais.
4 consequências da alienação parental: conheça!
Confira algumas das consequências da alienação parental nas crianças e jovens!
1. Impacto no emocional das crianças
A alienação parental pode causar um impacto emocional profundo nas crianças, levando a sentimentos de confusão, ansiedade, culpa e até mesmo depressão.
As crianças frequentemente enfrentam conflitos internos ao serem forçadas a escolher um lado entre os pais, o que pode prejudicar seu desenvolvimento emocional saudável.
Além disso, a perda do relacionamento com um dos genitores pode deixar cicatrizes emocionais de longo prazo, afetando negativamente suas futuras relações interpessoais e sua autoestima.
A alienação parental é uma forma de abuso emocional que pode ter consequências duradouras para o bem-estar psicológico das crianças envolvidas.
2. Efeitos psicológicos de longo prazo
Os efeitos psicológicos de longo prazo nas crianças que sofrem de alienação parental podem ser profundos e duradouros.
À medida que crescem, essas crianças podem carregar consigo sentimentos de ressentimento, angústia e desconfiança em relação aos relacionamentos interpessoais, especialmente aqueles envolvendo figuras parentais.
Eles podem lutar para estabelecer laços emocionais saudáveis e podem desenvolver problemas de autoestima e autoconfiança.
Além disso, a alienação parental pode impactar negativamente o desenvolvimento de suas habilidades sociais e até mesmo sua capacidade de resolver conflitos de maneira construtiva.
Para muitos, superar esses traumas emocionais exige apoio psicológico e terapia, a fim de reconstruir relacionamentos familiares e buscar uma recuperação emocional completa.
3. Desenvolvimento de problemas de relacionamento
Crianças e jovens que sofrem alienação parental frequentemente enfrentam uma série de problemas de relacionamento ao longo da vida.
Eles podem ter dificuldade em confiar nas pessoas, especialmente em figuras de autoridade e em relacionamentos íntimos, devido à experiência de terem sido manipulados ou alienados de um dos pais.
Essa desconfiança pode levar a relacionamentos interpessoais instáveis e dificuldades em formar conexões profundas e saudáveis.
Além disso, essas crianças podem lutar para lidar com conflitos, pois podem não ter aprendido a resolver diferenças de maneira construtiva durante sua infância.
Em última análise, a alienação parental pode deixar cicatrizes emocionais que afetam negativamente a capacidade das crianças e jovens de estabelecer relacionamentos duradouros e gratificantes ao longo de suas vidas.
O apoio psicológico e terapêutico pode ser essencial para ajudá-los a superar esses desafios e construir relacionamentos mais saudáveis.
4. Efeitos na autoestima e autoimagem
As crianças e jovens vítimas de alienação parental frequentemente enfrentam consequências devastadoras em relação à sua autoestima e autoimagem.
Ao serem submetidas a mensagens negativas e manipuladoras sobre um dos pais, elas podem internalizar essas ideias e desenvolver uma visão distorcida de si mesmas.
Isso pode resultar em uma autoimagem negativa, sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
Elas podem questionar seu próprio valor e se sentir responsáveis pelo conflito entre os pais.
Essas questões de autoestima podem persistir na vida adulta, afetando a capacidade da pessoa de estabelecer relacionamentos saudáveis, buscar objetivos pessoais e experimentar a felicidade.
Portanto, é crucial oferecer apoio emocional e psicológico às crianças afetadas pela alienação parental, ajudando-as a reconstruir uma autoimagem positiva e uma autoestima sólida para enfrentar os desafios da vida com confiança.
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Alienação parental é crime? A visão do direito sistêmico!
Na qualidade de advogada que já fui, ressalto a importância do olhar do direito sistêmico, uma abordagem que considera a interconexão de sistemas familiares e sociais, como fundamental na compreensão e resolução da alienação parental.
Sob essa perspectiva, a alienação parental não é apenas um problema entre os pais envolvidos, mas um fenômeno que afeta toda a família e a sociedade em geral.
Portanto, a intervenção legal deve se concentrar não apenas na proteção dos direitos parentais, mas também no bem-estar das crianças, considerando o contexto mais amplo.
Isso envolve promover a cooperação e a comunicação entre os pais, oferecer apoio psicológico às crianças afetadas e educar os profissionais do sistema jurídico e social sobre a complexidade desse problema.
O direito sistêmico busca criar soluções holísticas que levem em conta não apenas os aspectos legais, mas também os aspectos emocionais e psicológicos envolvidos na alienação parental, visando ao melhor interesse das crianças e à restauração de relações familiares saudáveis.
Por conta desse viés protetivo, houve alteração na Lei 12.318 de 2010 que, querendo proteger ainda mais a criança ou adolescente vítima deste ato gravíssimo de seus genitores, de qualquer culpa que pudesse recair ainda sobre ela, a visão de crime dessa arbitrariedade, para que a criança não se sentisse ainda culpada pelo fato da prisão ou criminalização de um dos pais nesse caso.
E é importante ressaltar que os filhos não são objetos ou armas nas mãos de seus pais, mas, sim, são pessoas, seres humanos em desenvolvimento e em formação e precisam crescer dentro de um ambiente saudável para se tornarem adultos saudáveis igualmente.
Enquanto os pais não enxergarem suas próprias dificuldades e desafios e vulnerabilidades enquanto filhos de seus pais, esse ciclo não se encerra.
Alienação parental: O que fazer?
Diante da separação e de um divórcio tanto o pai quanto a mãe precisariam estabelecer uma relação saudável, porém, não é o que acontece em muitos dos casos, principalmente por conta da fragilidade emocional de ambos os cônjuges e da situação com que se termina o relacionamento.
Na visão sistêmica quando não há paz, a separação não se concretiza e é justamente aí que todo o movimento de reivindicação se desenrola: o amor cego começa a querer cobrar da outra parte algo que não existe nessa relação e sim, algo que pode ter ficado ancorado no passado do pai ou da mãe, na própria relação com seus pais, com seus genitores ou cuidadores da infância.
Um profissional jurídico com a visão do direito sistêmico entenderá essa dinâmica, e hoje já existem profissionais advogadas e advogados, juízes e promotores, mediadores e conciliadores que trazem esse entendimento.
O melhor é que o pai ou a mãe afetados pela alienação parental busquem essa orientação jurídica específica, ou seja, busque um profissional do direito com formação de especialização ou conhecimento em direito sistêmico.
Informe-se na Ordem dos Advogados do Brasil mais próxima de você se há ali uma comissão de Direito Sistêmico e aí sim, a melhor orientação de como proceder pode ser realizada nessa situação.
No Brasil, a SBDSIS (Sociedade Brasileira de Direito Sistêmico) dirigida pela advogada Fabiana Quezada (presidente da Comissão de Direito Sistêmico central de São Paulo) é a maior movimentadora e difusora de profissionais para todo o Brasil com essa formação, assim como o juiz Sami Storch na Comarca de Itabuna na Bahia é o precursor do Direito Sistêmico no Brasil, ambos sendo nomes de referência nesse sentido.
Ter um profissional com a visão do direito sistêmico e também contar com a equipe jurídica qualificada, evita muitos dos danos aos quais se pode chegar ao iniciar uma ação de alienação parental sem o devido conhecimento e os danos podem ser irreversíveis, nesse caso.
Ter com quem contar, faz exatamente a diferença crucial!
Livro e filme sobre alienação parental
Trago a indicação de dois livros importantes aos pais que querem usufruir de uma parentalidade mais sadia para seus filhos:
- Parentalidade Consciente: Como o autoconhecimento nos ajuda a criar nossos filhos – Daniel Siegel e Mary Hartzel
- O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido (e seus filhos ficarão gratos por você ler) – Philippa Perry
Ambos trazem embasamentos científicos de como pais e mães, através do olhar dos próprios caminhos que tiveram com seus pais, não recaem nos erros na criação de seus filhos, uma vez que se dispõem a trilhar o autoconhecimento e também trabalhar suas próprias feridas emocionais sem prejudicar seus filhos, porque é o que invariavelmente acontece.
No intuito de querer acertar, acabam ou se espelhando na criação que tiveram ou querendo mudar tudo e erram a mão, e esses dois livros explicam que pais saudáveis criam filhos igualmente saudáveis, emocionalmente e mentalmente.
Também deixo a indicação de dois filmes para refletir:
- História de um Casamento: o filme da Netflix, com direção de Noah Baumbach, foi um dos mais premiados de 2019. Trata da separação de um casal em que, em meio a uma guerra judicial, o mais prejudicado é o filho pequeno;
- Uma Babá Quase Perfeita: a comédia clássica de 1990, dirigida por Chris Columbus, trata de forma bem-humorada o drama de um ator recém-divorciado, vivido por Robin Williams. Desempregado e afastado da convivência diária com os filhos, ele decide se disfarçar de babá para passar mais tempo junto das crianças.
Como a Terapia Multidimensional pode ajudar nas consequências da alienação parental?
Como dissemos, a alienação parental pode causar sérios danos na saúde emocional e mental das pessoas envolvidas (filhos e genitores afetados na situação) e a Terapia Multidimensional pode trazer maior leveza, clareza, harmonia e amor para os casos onde a separação do casal é desafiadora.
Importante ressaltar também que ela traz harmonia aos relacionamentos e cada um dos pais ou mães deve buscar a sua própria jornada de autoconhecimento para entender o porquê da situação acontecer e saber lidar com maior segurança e entendimento do processo na relação atual.
Ninguém entra numa relação com o intuito de se separar, porém, pode acontecer e as duas pessoas envolvidas devem saber entender que o fim da relação não é o fim da vida afetiva de nenhum dos dois e ambos, se pensarem e se cuidarem emocionalmente, poderão desenvolver outros relacionamentos saudáveis ao longo da vida.
Faz sentido pra você?