Normose: o que é ser normal, afinal?
Seguindo como base o livro Normose: a patologia da normalidade, proponho, hoje, uma reflexão acerca do que é ser normal em sociedade e trago questionamentos válidos para você refletir sobre isso em sua vida. Boa leitura!
Índice
Normose: significado
Iniciando nosso diálogo, gostaria de trazer à tona esse conceito interessantíssimo amplamente discutido por Pierre Weil, a normose.
Mas o que é isso?
Normose é a patologia da normalidade. Sim, isso mesmo.
Pensamos sobre o que é ser uma pessoa normal e, posso dizer, que estamos intimamente sempre nos medindo de acordo com essa fita da normalidade que buscamos apreender das relações, pelo olhar e aprovação do outro.
O normal é o mais frequentado socialmente, são os padrões de comportamentos esperados, os sentimentos esperados… Enfim, é um parâmetro externo, aprendido de fora para dentro, que nunca foi questionado e que pode ter bases inconscientes profundas.
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Normose: a doença do século
Você e eu fomos programados culturalmente para não pensar por si mesmo.
Não questionar, mas seguir o que foi imposto pelo meio. Afinal, “a vida é assim mesmo”.
Seu corpo foi dissociado de sua mente, tendo a mente (que nunca foi sua de verdade, mas das autoridades culturais) predomínio sobre o corpo (reduzido a simples aglomerado de carne e gordura, inconveniente pelas sensações que produz e pelo peso que é capaz de acumular).
Você, que é natureza, foi trancafiado dentro de um bloco de concreto, e ensinado a sentir medo do outro, medo da natureza, medo de si mesmo e assim, passou a não se perceber mais como natureza.
Você foi ensinado a ganhar dinheiro, sem se perguntar para quê, como, a troco de quê.
Te ensinaram que homem para ser homem tem que fazer assim e mulher tem que ser daquele jeito.
Você não foi encorajado a olhar para dentro de si mesmo e valorizar a verdade que falava lá no fundo. Não foi ensinado a prestar atenção nos seus sentimentos, sensações e intuições.
Apenas o intelectual foi valorizado e incentivado, mas, é claro, desde que respondesse aos interesses externos. E assim, nos tornamos normóticos, robóticos e programados.
Nosso objetivo não é existir plenamente, e sim, nos tornarmos iguais aos outros, normais. Faz sentido para você?
Esse fenômeno é social.
Não adianta culpar os pais e avós, pois eles também estavam imersos nessa ideologia da normalidade e fizeram o melhor que puderam.
Você está tendo uma nova oportunidade de mudança lendo esse artigo. Então:
Como se tornar quem se é?
Mas como se tornar quem se é dentro de uma família normótica, de um trabalho em uma instituição normótica, sendo aluno de uma escola normótica, de uma sociedade normótica?
Pois bem… Esse é o desafio. Roberto Crema nos alerta:
“Portanto, se nossa família humana se extinguir, se o barco onde todos estamos afundar, não terá sido pelos psicóticos nem pelos neuróticos, mas pelos normóticos que fomos!
O grande perigo atual, a grande ameaça global se chama normose.
Precisamos de pessoas esquisitas […]”.
(WEIL, P; LELOUP, JY; CREMA, R. Normose, a patologia da normalidade. 4.ed. – Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013, p.34.)
Essa questão me faz lembrar do pensamento de Friedrich Nietzsche de que a humanidade estaria se encaminhando para a formação de dois homens:
- O último humano;
- O além-humano.
O primeiro, completamente alienado de si mesmo, normótico, assiste sua vida passar enquanto se distrai dela. E o segundo, o além-humano, faz da sua vida uma obra de arte, realizando seu potencial.
A civilização não resistirá ao último humano, de acordo com o filósofo.
“Que é amor? Que é criação? Que é nostalgia? Que é estrela?
— Assim pergunta o último homem, e pisca os olhos.
A Terra se tornou pequena, então, e sobre ela saltita o último homem, que torna tudo pequeno.
Sua estirpe é indestrutível, como a pulga; o último homem é o que vive mais tempo.
Nós inventamos a felicidade — dizem os últimos homens, e piscam os olhos.
Nenhum pastor e um só rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais.
Quem sente de outra maneira vai voluntariamente para o hospício.
Temos nosso prazerzinho para o dia e nosso prazerzinho para a noite, mas prezamos a saúde.
Nós inventamos a felicidade, dizem os últimos homens, e piscam os olhos.”
(Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Prólogo; em KSA. Vol.4, 1994, p19.)
Entendo que perceber a própria normose (ou melhor, as normoses) já seja um passo bastante importante para encontrar uma forma de superá-la.
Bom, por hoje, é isso. Em breve trarei mais considerações acerca desse tema tão interessante.
Momento de reflexão
Leia, agora, um conto, presente no livro Normose: a patologia da normalidade, de Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema:
“Num certo monastério, as pessoas fofocavam demais.
E isso estava ficando insuportável, levando todos a um estado de infelicidade. Todos julgavam todos, não havia mais confiança.
O diretor-geral do monastério resolveu procurar um sábio ermitão.
Ao chegar a esse sábio, ele contou sua tragédia:
Na minha cidade da paz, todos estão brigando, todos estão contra todos. O que eu posso fazer?
O sábio olhou para ele e disse:
Eu sei qual é o problema. É que Buda está escondido e disfarçado de um de vocês.
Encantado, o diretor voltou para o monastério se perguntando:
Será que Buda se disfarçou do nosso jardineiro? Mas ele é tão distraído!… Será que é o carpinteiro? Será que…?
Lá chegando, reuniu a todos para dar a boa notícia:
Nosso problema é que Buda se disfarçou em um de nós!
Todos se entreolharam, com um novo olhar. E a partir desse momento a paz retornou a esse monastério”.
Como superar a normose e valorizar meus potenciais?
Proponho a você que faça alguns questionamentos para detectar a normose em você!
Afinal, não adianta nada fazer uma análise completa do outro, pois só temos o poder real de mudarmos a nós mesmos…
Imagine-se livre em todos os sentidos e pergunte à sua alma:
- O que eu realmente gostaria de estar fazendo nesse exato momento?
- Quão longe eu estou dessa atividade que eu gostaria de estar fazendo agora?
- O que me impede de fazer essa atividade?
- De 0 a 10, o quanto eu tenho medo de ser julgado por outras pessoas ao fazer o que eu realmente gostaria de estar fazendo agora?
- Essa atividade incomodaria alguém? Quem?
- De 0 a 10, quão normal eu acho que eu sou?
- De 0 a 10, o quanto eu tenho medo de ser vista como uma pessoa estranha?
Reflita e, caso sinta necessidade, agende uma sessão de Psicanálise online para olharmos com mais atenção para suas questões. Até mais! 🙂
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