Saúde mental em tempos de crise e desastres: orientações e apoio!
O Rio Grande do Sul está enfrentando uma das maiores tragédias naturais já registradas em sua história e o cuidado com a saúde mental em tempos de crise se torna desafiador diante desse cenário.
Em uma entrevista à UOL, o governador do estado, Eduardo Leite, afirmou que esse é “o pior desastre já registrado na história do RS.”
As fortes chuvas e inundações foram classificadas como desastres de nível 3, caracterizados por danos e perdas significativas. Além do decreto de estado de calamidade pública, todo o estado foi colocado em alerta máximo de inundação severa.
- 60% dos municípios do estado foram afetados pelos temporais;
- Milhares de pessoas foram prejudicadas. Muitas perderam tudo, inclusive familiares. Outras encontram-se em alerta, devastadas com a situação!
As enchentes deixaram marcas profundas, e abalaram a saúde emocional.
Neste artigo vamos entender como o nosso cérebro responde a essas situações. Como podemos pedir ajuda e cuidar da saúde mental em tempos de crise. E como podemos ajudar pessoas no RS!
Sou Carlos Mayke, psicólogo e responsável técnico no Guia da Alma. Boa leitura!
Índice
Como os cenários de emergência e desastres afetam a saúde mental?
Nosso cérebro, como um centro de percepção e resposta a estressores, é capaz de identificar ameaças e desencadear respostas fisiológicas e comportamentais que podem ser adaptativas ou prejudiciais. Em situações críticas, o cérebro ativa um sistema de resposta rápida, liberando uma série de hormônios e desencadeando comportamentos voltados à sobrevivência.
No entanto, desastres naturais, como os que atingiram o Rio Grande do Sul, podem desafiar a capacidade humana de resposta.
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP) no documento Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) na Gestão Integral de Riscos, Emergências e Desastres: situações como essa podem desencadear sentimentos de medo, horror e impotência, além de confrontar as pessoas com a destruição, o caos e a possibilidade de morte, tanto própria quanto de outras pessoas.
A longo prazo essa exposição pode levar a uma série de reações emocionais e comportamentais, como ansiedade, depressão, insônia e até mesmo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Por isso, desde já, ressaltamos a importância de buscar ajuda especializada caso seja percebida a necessidade.
Reações Emocionais e Comportamentais Comuns:
A resposta do cérebro em situações de crise é complexa. Para o neurocirurgião Fernando Gomes, em entrevista para o canal CNN, o cérebro da pessoa que está vivendo a situação fica sensibilizado, com pensamentos constantes.
Quem não foi diretamente atingido entra em um processo de pensamentos que ficam fixados na memória de curto prazo, gerando preocupação.
É importante lembrar que cada pessoa reage a crises de forma diferente. No entanto, algumas reações emocionais e comportamentais comuns incluem:
- Medo e Ansiedade: Sensação de inquietação, nervosismo, dificuldade para respirar e pensamentos acelerados são naturais em situações perigosas.
- Tristeza e Luto: Sentir tristeza e luto após um desastre, especialmente se você perdeu alguém ou teve que deixar sua casa, é comum.
- Raiva e Frustração: É normal sentir raiva e frustração com a situação, com as autoridades ou consigo mesmo. Expresse esses sentimentos de forma saudável para evitar ressentimentos ou persistência dessas reações.
- Culpa e Vergonha: Pode acontecer de você sentir culpa por ter sobrevivido ou não ter conseguido proteger seus entes queridos. Lembre-se: você não é culpado e fez o seu melhor.
Como cuidar da saúde mental em tempos de crise, emergências e desastres?
Mesmo diante de adversidades, todos possuem recursos internos para lidar com desafios. Entretanto, algumas pessoas são particularmente vulneráveis em situações de crise e podem precisar de mais ajuda.
Em situações de desastre, é comum que algumas pessoas se sintam tão sobrecarregadas pelo sofrimento e pela dificuldade da situação que considerem a desistência como uma opção.
Mas saiba que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim um ato de coragem. Se precisar de alguém para conversar ou se sentir perdido(a), não hesite em entrar em contato com os serviços de emergência locais ou recursos de apoio emocional.
- Converse com alguém em quem você confia: Procure compartilhar seus sentimentos com alguém próximo, como um amigo, familiar ou vizinho. Compartilhar suas preocupações pode aliviar a angústia e fornecer apoio durante esse momento difícil.
- Cuide de si mesmo: Priorize o autocuidado, mesmo em meio às limitações. Tente descansar sempre que possível, alimente-se adequadamente e faça pequenos intervalos para se exercitar, mesmo que seja apenas uma caminhada curta ou um alongamento.
- Busque informações confiáveis: Mantenha-se informado sobre a situação por meio de fontes confiáveis.
- Participe de grupos de apoio: Procure grupos de apoio locais ou online para pessoas que estão passando pela mesma situação que você. E centros de apoio seguros com alimento e abrigo.
- Respire: Encontre um local seguro e silencioso e faça respirações profundas.
- Encontrar Propósito: Mesmo nas situações mais difíceis, buscar significado e propósito pode ajudar a manter a esperança e a motivação para seguir em frente.
- Tenha apoio profissional: buscar por um terapeuta para cuidar da saúde mental em tempos de crise e desastres, é muito recomendado.
Os terapeutas Guia da Alma estão disponibilizaram terapias gratuitas para todos aqueles afetados pelas inundações durante Maio, Junho e Julho/24.
Outras instituições também oferecem apoio emocional gratuito, como é o caso do CVV: Centro de Valorização da Vida para prevenção ao suicídio.
Como é possível ajudar outras pessoas?
Diante dessa situação, muitas pessoas podem se perguntar: “Como posso ajudar?”.
Aqui estão algumas maneiras de colaborar, seja você alguém próximo ao local do desastre ou alguém que esteja longe.
Se você está próximo ao local do desastre:
- Voluntariado: Muitas organizações precisam de voluntários para ajudar nas operações de resgate e recuperação. Junte-se a ONGs e entidades locais que estejam prestando auxílio às vítimas.
- Escuta ativa: Dê atenção às vítimas, demonstrando empatia e compreensão. Pergunte como você pode ajudar e, além de ouvir, verifique se há alguma necessidade emergencial que deve ser atendida, como tirá-las de perigo, fornecer alimentação, água ou facilitar o contato com familiares.
- Ajude na busca por apoio profissional: Oriente as vítimas sobre como acessar serviços médicos ou psicológicos.
Se você está longe do local do desastre:
- Doações em geral: Contribua com itens essenciais, como alimentos não perecíveis, água, roupas, produtos de higiene pessoal e cobertores. Verifique os pontos de coleta em sua área.
- Doações financeiras: Você também pode contribuir enviando valores que sejam possíveis para você.
- Voluntariado virtual: Muitas organizações oferecem oportunidades de voluntariado virtual, onde você pode contribuir com suas habilidades remotamente, seja em serviços de apoio psicológico, tradução de documentos ou assistência administrativa.
Vale incluir aqui também as orientações salientadas pela Organização Mundial da Saúde no documento “Primeiros cuidados psicólógicos: guia para trabalhadores em campo”:
- Siga as instruções das autoridades competentes que sejam responsáveis pelo gerenciamento da crise;
- Saiba quais respostas de emergência estão sendo organizadas e quais recursos estão disponíveis para ajudar as pessoas, caso haja;
- Não fique no caminho de profissionais de busca e resgate ou da área médica;
- Conheça seu papel e os limites de sua atuação. Reconheça seus limites e peça ajuda de outras pessoas, tais como profissionais da área médica (se disponíveis), seus colegas de trabalho ou outras pessoas que estiverem no local, autoridades locais ou líderes comunitários e religiosos.
Lembre-se: Cada gesto de ajuda, por menor que seja, pode fazer a diferença na vida de alguém em situação de crise.
Se você tem empresa:
- Fale sobre o tema com sua equipe: todos estamos impactos direta ou indiretamente com a situação. Promova uma comunicação de apoio e união do time;
- Apoie alguma ação social: cada empresa tem formas diferentes de ajudar. A sua pode apoiar também em pontos de coleta, com doações, publicações sobre o tema, ou mesmo ações de voluntariado (virtual e nos locais);
- Ajude na busca por apoio profissional: Oriente os colaboradores como acessar serviços médico e emocional dentro do seu pacote de benefícios.
Mensagem final
A todos que estão passando por este momento difícil no Rio Grande do Sul, queremos enviar uma mensagem de força e solidariedade.
Sabemos que as palavras não podem apagar a dor e o sofrimento que vocês estão enfrentando, mas queremos que saibam que não estão sozinhos.
Lembrem-se: Há pessoas que se importam e querem ajudar. Vocês não estão sozinhos!
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- Os terapeutas Guia da Alma estão disponibilizaram terapias gratuitas para todos aqueles afetados pelas inundações durante Maio, Junho e Julho/24. Foram dezenas de pessoas apoiadas!
- Outras instituições também oferecem apoio emocional gratuito, como é o caso do CVV: Centro de Valorização da Vida para prevenção ao suicídio.