Permacultura: Revolução disfarçada de jardinagem!
Estudos mostram que o contato com a terra faz bem para a saúde e pode até ser um remédio contra a depressão. Mas o estilo de vida atual dificulta a conexão homem-natureza, e a crescente urbanização concentra cada vez mais pessoas longe do campo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 80 % da população vive em cidades. A expansão da agropecuária caracterizada pelo uso de máquinas reforçou o processo de urbanização, visto que absorve pouca mão-de-obra.
Sair do campo para a cidade sempre pareceu perfeitamente normal. Afinal, é nos grandes centros que se acumulam as grandes oportunidades.
É mesmo? Então porque a desigualdade social cresce cada vez mais? Nesse jogo de “quem pode mais”, alguns (ou muitos) sempre ficam para trás. E aliada a problemas de planejamento e má gestão dos espaços urbanos, a exclusão social resulta no fenômeno da favelização.
A permacultura, que vai de encontro ao processo de urbanização e consumismo, é o planejamento de sistemas holísticos em escala humana, sustentáveis e produtivos em harmonia com a natureza.
A harmonia não deveria ser um bicho de sete cabeças, considerando que é uma premissa básica para a existência, mas é. Somos levados a acreditar que somos separados da natureza. Olhamos para o planeta como uma fonte de recursos, e não como o organismo vivo do qual fazemos parte.
Afinal, o que é permacultura?
A palavra permacultura foi cunhada pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgreen em meados dos anos 70 para descrever “paisagens conscientemente desenhadas que reproduzem padrões e relações encontradas na natureza e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos, fibras e energia suficientes e em abundância para prover as necessidades locais”¹.
A Flor do Sistema de Design da permacultura mostra 7 campos (7 pétalas) que requerem transformação para a criação de uma cultura sustentável. Cada pétala apresenta um princípio ético e seus desdobramentos.
No livro “Permacultura Um”, Bill Mollison levanta as hipóteses que servem de embasamento para a permacultura. São elas:
– O homem está sujeito às mesmas leis científicas que governam o mundo material.
– A extração de combustíveis fósseis durante a nossa atual era industrial é considerada a raiz da grande explosão de crescimento populacional, tecnológico e das características da sociedade de consumo.
– A crise ambiental é real e de uma magnitude que certamente impactará a nossa sociedade de forma sem precedentes, colocando em risco a qualidade de vida e a sobrevivência de toda espécie humana.
– Os impactos desta sociedade industrial e do crescente número de seres humanos impactam a biodiversidade do planeta muito mais que as sociedades precedentes nos séculos anteriores.
– O esgotamento inevitável, e já previsto em vários livros sobre o pico do petróleo, dentro de algumas gerações, resultará num retorno gradual a prática e cultura de sociedades pré-industriais baseadas em recursos e energias renováveis.
Considerando, então, que fazemos parte de um planeta cíclico, é inútil e impraticável a continuidade de uma gestão linear de recursos. Estamos acostumados com a praticidade da aparente invisibilidade dos nossos impactos no planeta. Apertamos o botão da descarga, levamos o lixo para fora, jogamos produtos químicos no ralo da pia. E esquecemos que nada disso some.
O diferencial da Permacultura é que ela foge das ideologias dicotômicas. “Vejo a Permacultura como revolucionária na medida em que se pauta na cooperação ao invés da competição”, diz Soraya Nor, professora de Arquitetura e Urbanismo da UFSC e pesquisadora na área de Permacultura e Bioarquitetura.
Segundo ela, é possível inserir os métodos e os princípios da Permacultura também para planejar e manejar a paisagem urbana, trazendo a natureza para praças, parques e jardins para o convívio dos habitantes das cidades, como também implantar e apoiar a agricultura urbana, por meio de políticas públicas.
Referências
¹ MOLLISON, Bill & HOLMGREEN, David. ‘Permaculture One’. Corgi, 1978
BBC Brasil. Exposição à terra ‘estimula a felicidade’, diz estudo. 2007
El País. 1% da população mundial concentra metade de toda a riqueza do planeta. 2015
Portal Brasil. IBGE: País migrou para o interior e urbanização já atinge 80% da população. 2010
Ilustração: Jessica Perlstein.